Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor

Homilia por Pe. José Paim, CSC

“Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável, aleluia” (Sl 138, 18.5-6).

Pela graça de Deus, mais um ano celebramos o Domingo da Páscoa do Senhor. É a festa do Senhor Ressuscitado, vencedor da morte para sempre. A ressurreição de Jesus Cristo é o centro da nossa fé, o fundamento da vida cristã. São Paulo diz: “E se Cristo não ressuscitou, é inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados” (1Cor 15, 14) e ainda: “E se Cristo não ressuscitou, é inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados” (1Cor 15, 17). De fato, Cristo ressuscitou, esta é nossa fé e esperança, esta é a verdade que, embora muitos tenham tentado desqualificá-la e ainda o façam, permanece para sempre. Desse modo, a Igreja e cada um de nós deve cotidianamente se alimentar deste mistério, deve proclamá-lo até que o Senhor volte, para caminhar dia após dia entre as luzes e sombras, vencendo o pecado, o desânimo, o cansaço da vida que teima bater à nossa porta e enfrentando o medo do sofrimento, da morte e de tudo que nos impede de caminhar com Cristo para Deus. É à luz da ressurreição do Senhor que a Igreja encontra forças para continuar sua missão, a humanidade e cada um de nós encontra sentido na caminhada, muitas vezes difícil, mas jamais impossível quando se tem no coração a certeza de que Cristo já derrotou a morte e vive para sempre.

O acontecimento da ressurreição não é invenção humana, produto da mente dos discípulos, ela é primeiramente a força do amor de Deus que age em Jesus Cristo, livrando-o da morte, não sem passar por ela, mas enfrentando-a e destruindo-a para sempre. A ressurreição do Senhor não se trata de um morrer para voltar a esta vida, de uma reanimação de um cadáver, mas de um passar definitivamente e total deste mundo ao Pai. Nela, o Pai testemunha para sempre que Jesus Cristo é seu Filho Amado, no qual ele se compraz, a quem devemos escutar (cf. Mt 13,17). No Cristo, Deus viu realizada toda sua vontade e a partir da ressurreição do Senhor sabemos que a vontade de Deus é puro amor, bondade, misericórdia, compaixão e salvação para com todos. Escutando Jesus Cristo, como Deus ordena, devemos experimentar a realidade da ressurreição, já aqui e agora, sobretudo de modo sacramental, respondendo ao Senhor com fé e amor e, ao passar pela morte, haveremos de viver com Cristo para sempre, afinal nossa vida está escondida com ele, em Deus (cf. Cl 3,3).

Desse modo, a ressurreição que é o agir livre e amoroso de Deus sobre o seu Ungido, é também a ação amorosa e gratuita de Cristo em nós, com uma diferença imensa, porque em Cristo, o Pai encontrou um amor correspondente, isto é, santo, filial, fiel, sincero e oblativo e, já em nós, o Filho encontra um amor frágil, de pecadores que somos, infiel, inconstante e ingrato. Não obstante a tudo isso, ele age em nós e em nosso favor nos ofertando este dom tão alto, tão digno, tão supremo, o dom de sua ressurreição, de participarmos da vida divina, de vivermos um dia para sempre com ele, livres da morte, do sofrimento, de qualquer tipo de tristeza ou medo. Tudo que nos é prometido na vida futura já nos é antecipado na vida terrena a fim de seguir os passos de Jesus Cristo até nossa meta última. Na Carta aos Romanos, Paulo nos recordou que pelo batismo, uma vez associados por Cristo à sua morte, também estamos identificados com ele em sua ressurreição. Dessa maneira, devemos pedir a graça divina e nos esforçar para diariamente morrer para o pecado a fim de reviver para Cristo.

A ressurreição do Senhor, portanto, atinge positivamente e transforma verdadeiramente a todos que acolhem sua presença viva – desde os que conviveram com ele em sua vida terrena, os primeiros a ter a graça de experimentar sua manifestação gloriosa, como Maria Madalena, Pedro, o discípulo Amado (cf. Jo 20,1-9) e mais tarde os demais apóstolos, Paulo, passando por nós, até a consumação dos tempos – como amor que transforma, liberta e salva. Lemos os evangelhos e percebemos como o encontro com o Ressuscitado mudou definitivamente a vida das mulheres e dos discípulos que ele escolheu por primeiros para testemunharem sua ressurreição. Olhamos a vida de tantos santos e santos, homens e mulheres e mais uma vez notamos a força do Ressuscitado na vida deles.

O senhor que manifestou sua ressurreição a tantos homens e mulheres na história da salvação tem sede de cada um de nós, nos deseja e continua a buscar corações sedentos e atentos ao seu amor vivo e atuante. Sua ressurreição não perdeu a eficácia salvífica e transformadora, não é coisa do passado, mas é atualíssima. O Ressuscitado continua entre nós, por meio dos sacramentos e na força do Espírito, nos convidando ao seu amor, à experiência de sua vida. Foi o amor que fez com o discípulo Amado, embora ainda não tivesse recebido a manifestação do Ressuscitado, vendo os sinais da morte: túmulo vazio, panos e faixas de linho, acreditou na ressurreição do Senhor. Aqui está para nós o sentido maior e o fundamento deste mistério de fé: o amor. Por amor, o Pai glorificou o Filho e por amor, o Filho Glorioso vem ao nosso encontro para nos erguer da morte, do pecado, do desânimo, para nos comunicar o dom da alegria pascal e nos fazer testemunhas de sua ressurreição.

Acolhamos o dom do Cristo Ressuscitado e agradeçamos tanta bondade dele para com cada um de nós e sejamos decididos, a exemplo de Maria Madalena, das outras mulheres, dos apóstolos, do discípulo Amado, Pedro, Paulo e tantos outros posteriormente a estes, testemunhas e anunciadores da ressurreição de Jesus Cristo na vida da Igreja, da humanidade e de tantos que vivem em situação de morte, que ainda não se despertaram para a ressurreição do Senhor, vivem escravos do pecado e tomados pelo desânimo. Que o Senhor nos conceda a graça de anunciar até os confins da terra que ele vive para sempre.

Feliz e Santa Páscoa do Cristo Ressuscitado a todos!


Por pe. José Paim, CSC

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