Homilia – Santa Ceia do Senhor

Reflexão por Pe. Rivaldo Oliveira da Silva, CSC

Querido povo de Deus, graça e paz!

Hoje, com toda a Igreja, celebramos o memorial do ato fundacional da Ceia do Senhor (cf. 1Cor 11, 23-25), isto é, o centro da atuação de Deus na vida daquele que se abre por inteiro para a graça de Deus.

Amados irmãos e amadas irmãs, nem sempre é fácil compreender os desígnios de Deus, no entanto, o Senhor continua a nos falar por meio dos símbolos e por meio da sua palavra, isto é, por meio de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus por excelência e, portanto, superior a Moisés e Aarão (cf. Ex 12,1-8.11-14).

Diz um bispo, do século II d.C., Melitão de Sardes: “Jesus desceu dos céus à terra para curar a enfermidade do ser humano; revestiu-se da nossa natureza no seio da Virgem e se fez homem; tomou sobre si os sofrimentos do ser humano enfermo num corpo sujeito ao sofrimento, e destruiu as paixões da carne; seu espírito, que não pode morrer, matou a morte homicida” (N. 65-71: SCh 123,94-100).

Frente a isso, vivemos em uma sociedade na qual, muitos com sentimentos de autossuficiência, são tentados a ser os desuses de si mesmos e a permanecer com a dureza de coração. Estas são as enfermidades de ontem, de hoje e de sempre (Gn 2). Entretanto, os cristãos são convidados a construir um mundo de paz, de justiça e de fraternidade, isto é, sendo apóstolos da esperança e bálsamo de misericórdia.

Para a pensadora e humanista chilena, Gabriela Mistral: “La humanidad es todavía algo que hay que humanizar”. Vivemos em um mundo dilacerado pela inressureição que levam as relações humanas à morte e à cegueira espiritual.  Jesus, o enviado de Deus ao mundo é modelo de ser humano por excelência, divino, se fez humano para elevar a carne humana ao coração de Deus. Em tom de prosa, o Espírito Santo de Deus Pai “ressuscitou também a humanidade das profundezas do sepulcro e destruiu a morte” (Melitão).

Gramaticalmente, o episódio da ceia pascal e do lava-pés, o evangelho joanino (Jo 13, 1-150), introduz no relato da última ceia/cenáculo o tema do serviço do Filho do Homem, isto é, de Jesus Cristo. O amor de Jesus aos “seus”, isto é, pela humanidade, chega ao ponto culminante – “chegou a hora”. O ato solene em que Jesus, sendo Deus, inclina-se, para lavar os pés da humanidade e apagar completamente a sua iniquidade (Sl 50).

Na magistral conclusão, Jesus tirou o manto, pegou uma toalha e cingiu a cintura e começou a servir e a lavar os pés dos discípulos (símbolo do serviço). Portanto, não basta lavar os pés uma, duas ou três vezes, é preciso mergulhar por inteiro à fonte do mistério pascal. Por vezes, somos como Pedro: “Tu nunca me lavarás os pés! Mas Jesus responde: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo” (Jo 13, 8). Para o teólogo jesuíta, Padre Konings: “Pedro viu no gesto a humilhação; Jesus, porém, a dedicação da própria vida” (Amor e fidelidade, p. 258).

O gesto de Jesus não contradiz a lógica Deus, ao contrário, Jesus tem consciência de estar realizando o sonho e o projeto de Deus para a humanidade: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 15). Jesus toma em suas mãos um pedaço de pão e dá a Judas (v.27), o traidor, para nos dizer que o a ceia judaica já era, pois ele é o verdadeiro pão eucarístico e, portanto, tudo está consumado.

Concluo esta homilia, dizendo, Jesus sendo Deus, ajoelhou-se, para lavar o coração e os pés da humanidade. Na literatura bíblica, um novo elemento é introduzido no acervo sagrado da humanidade Deus se fez homem para servir com alegria porque muito ama. Se Deus, saiu do seu glorioso segredo para servir, segundo o Apóstolo Paulo, também nós, não devíamos fazer o mesmo?


Por pe. Rivaldo Oliveira da Silva, CSC

Capelão e Orientador espiritual do Colégio Notre Dame de Campinas

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