1 ano de Fratelli Tutti, a Encíclica social do Papa Francisco
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Há um ano, o Papa Francisco publicava a Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre fraternidade e amizade social. Em comemoração à promulgação da carta, ao longo de outubro, você encontra, no site da Congregação de Santa Cruz, um artigo, dividido em quatro partes, produzido com base na terceira encíclica do Santo Padre, que busca aprofundar alguns pontos relevantes da Fratelli Tutti como a fraternidade universal, a economia, o trabalho e a opção evangélica pelos mais pobres.
“Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram de sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, enfim, dos últimos” (FT 2).
Nesta Encíclica, o Papa Francisco apresenta um diagnóstico de algumas tendências do mundo atual que dificultam a fraternidade universal e o Bem Comum. Ele reconhece que houve avanços na sociedade, como por exemplo a União dos países Europeus, o avanço para superar a divisão e o diálogo pela paz, bem como o fim das guerras em alguns países.
Mesmo havendo tais avanços, o Pontífice evidencia que infelizmente houve algumas regressões na história da humanidade como, por exemplo, à volta a estruturas ideológicas de forte patriotismo, o conservadorismo exacerbado por uma parcela da sociedade, a ganância do homem sobre o homem e a consequente exploração demasiada dos recursos naturais, isto é, da nossa Casa Comum. Eis o que Francisco nos diz:
A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrônicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos. Em vários países, certa noção de unidade do povo e da nação, penetrada por diferentes ideologias, cria novas formas de egoísmo e de perda de sentido social mascarada por uma suposta defesa dos interesses nacionais (FT 11).
Na presente Encíclica o Santo Padre aborda determinados temas de suma importância para o homem contemporâneo, elementos como a economia, a política de mercado, o trabalho e suas nuances, assim como as consequências de tais temáticas e suas respectivas responsabilidades para a formação e construção de um mundo mais humano e igualitário.
Percebemos em relação ao quesito economia que houve um grande apogeu no desenvolvimento econômico, sobretudo os países de Primeiro Mundo no qual houve um enriquecimento explícito nas últimas décadas. Porém, não houve um crescimento econômico integral amplo que contemplasse a todos, isto é, um crescimento que vise à partilha e a divisão dos bens comuns numa perspectiva universal no qual todos possuem direitos iguais para receber os benefícios proporcionados por este grande desenvolvimento.
A este respeito, o Romano Pontífice, denuncia:
O mundo avança implacavelmente para uma economia que, utilizando os progressos tecnológicos, procurava reduzir os ‘custos humanos’; e alguns pretendem fazer-nos crer que era suficiente a liberdade de mercado para garantir tudo (FT 33).
Neste âmbito, uma imensa parcela da população mundial vive em extrema pobreza ou em condições sub-humanas, mesmo com todas as novas tecnologias que favorecem as condições de subsistência ao ser humano. Enquanto o mercado financeiro cresce cada vez mais e uma pequena parcela de grandes empresários e latifundiários fica cada vez mais rica, a maior parte da população fica à deriva; à margem deste progresso, aumentando assim cada vez mais a pobreza sistêmica.
Atualmente boa parte da população continua sem vez e sem voz; o número de empobrecidos aumentou assustadoramente sob o peso e as consequências da crise pandêmica que assola esta segunda década do Novo Milênio. Atento a esta realidade o Papa Francisco escreve exortando a todos em relação à economia de mercado:
‘Abrir-se ao mundo’ é uma expressão de que, hoje, se apropriaram a economia e as finanças. Refere-se exclusivamente à abertura aos interesses estrangeiros ou à liberdade dos poderes econômicos para investir sem entraves nem complicações em todo os países. Os conflitos locais e o desinteresse pelo bem comum são instrumentalizados pela economia global para impor um modelo cultual único. Essa cultura unifica mundo, mas divide as pessoas e as nações, porque ‘a sociedade cada vez mais globalizada tornamo-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos’ (CV, N.19). […] em contrapartida aumentam os mercados, nos quais as pessoas desempenham funções de consumidores ou de espectadores (FT 12).
Bibliografia: FRANCISCO, PAPA. Carta encíclica Fratelli tutti. Sobre a fraternidade e a amizade social (FT). Roma: Librería Editrice Vaticana, 2020.