Quaresma com São José! A cada semana da Quaresma, o Pe. Rafhael Silva Maciel propõe uma pequena catequese, que este ano terá como linha guia o Ano de S. José, proclamado pelo Papa Francisco. Esta semana o tema é: São José e a criatividade da caridade. Pe. Rafhael é Missionário da Misericórdia e Mestre em Sagrada Liturgia. Confira a terceira reflexão.
Via Vatican News (https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-03/quaresma-sao-jose-catequese-4.html)
O Venerável Papa Pio XII instituiu S. José como Patrono dos trabalhadores. Na ocasião do encontro com membros da Associação Cristã dos Trabalhadores Italianos dizia: “Hoje (…) devemos reconhecer que a bênção do Senhor, por Nós invocada sobre a vossa obra, foi forte e que o Patrono celeste, que então vos demos, S. José, homem fiel e justo, o trabalhador por excelência, vos protegeu prodigiosamente” (29/6/1948).
Assim, S. José era reconhecido como Patrono dos trabalhadores, pois com o suor do seu trabalho sustentou o lar de Nazaré, proveu para sua casa o necessário, passando ele mesmo por todas a condições e agruras que um digno trabalhador passa no enfrentamento das adversidades da condição humana.
O operário de Nazaré soube com destreza repassar a Jesus o seu ofício. As Escrituras reconhecem Jesus como “o filho do carpinteiro” (Mt 13,55). O Papa Leão XIII, na Encíclica Quamquam Pluries (15/8/1889), escreveu: “José foi ao mesmo tempo legítimo e natural custódio, chefe e defensor da divina família. Com trabalhos que exerceu enquanto teve vida (…). Ele, continuamente, supria para eles as necessidades da vida com seu trabalho”.
Papa Francisco, na Carta Patris corde, escreve que S. José exerceu seu trabalho com honestidade “para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho” (n.6).
Vivemos tempos difíceis, em que uma pandemia inesperada atinge o mundo, não apenas com uma crise sanitária que vitimou muitas pessoas queridas, mas emergiu outro grave problema: uma crise econômica, que afeta tantos lares com o fantasma do desemprego e da falta de condições para o sustento digno das famílias.
Junto ao luto por tantas mortes, “neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo” (Francisco, Patris corde, 6).
O operário S. José, em tempos de pandemia na saúde e pandemia do desemprego é para nós sinal de que não devemos baixar a cabeça e buscarmos dignificar a vida humana com um trabalho justo e honrado. O Papa emérito Bento XVI disse em um de seus discursos que “o cristianismo está sempre chamado a procurar a justiça. O caminho realizado pelos leigos cristãos (…) guiou-os à autoconsciência de que as obras de caridade não devem substituir o compromisso pela justiça social” (4/3/2006). Por isso, o trabalho para sustentar os lares é compromisso com a justiça social!
Na Carta para o Ano de São José, escreveu Francisco: “a perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde possamo-nos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”. As políticas em favor da vida, para além de fechar cidades e comércios para contenção da pandemia, deveriam prover para os cidadãos, também, por exemplo, um satisfatório sistema de transporte público; a redução da carga tributária, que pesam sobre o bolso dos mais pobres; dar incentivos fiscais para que os empreendedores possam pagar seus funcionários, enfim…
Confiamos aos cuidados do amado Patrono dos trabalhadores as necessidades de tantas pessoas que sofrem nesse momento, ao mesmo tempo que confiamos a ele os governantes para que promovam políticas públicas em favor dos trabalhadores.
Como mais um gesto concreto quaresmal, na escola de São José, operário durante essa Quaresma podemos fazer algum TRABALHO VOLUNTÁRIO, doando um pouco do nosso tempo ajudando alguma instituição de caridade; ou despojemo-nos de alguns bens que temos guardados – no vestiário, alimentos, entre outros – e doemos para irmãos que passam necessidade nessa hora tão difícil! Nossa penitência nos leve à santa caridade e nossas ações sejam reflexo da abstinência e jejum, realizados conforme a vontade do Senhor.
São José, operário, providenciai!
Boa oração, abençoada meditação!
Roma, 10 de março de 2021
Quarta-feira, III Semana da Quaresma
Pe. Rafhael Silva Maciel
Missionário da Misericórdia Mestre em Sagrada Liturgia