Amado povo de Deus, graça e paz! O Santo Evangelho deste domingo (Jo 9,1-41) nos introduz à “fonte de luz” que emana das profundezas do coração do próprio Deus. O autor sagrado destaca na liturgia de hoje o encontro de Jesus com o cego de nascença: “Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os discípulos perguntaram a Jesus: ‘Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou seus pais?’ Jesus respondeu: ‘Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem nele'” (Jo 9,1-3).
No exuberante relato do cego de nascença, o próprio Jesus viu a cegueira espiritual da humanidade. Aqui, precisamente representada pelo cego de nascença que, por vezes, se encontra encurvado e distante da vida mesma de Deus.
Em tom de prosa, “Jesus cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: Vai lavar-te na piscina de Siloé. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando” (Jo 9,6-7). Neste âmago, se no relato da criação (Gn 2), Deus soprou o Espírito da vida sobre o barro que outrora se encontrava petrificado e o plasmou com suas próprias mãos, e a vida ressurgiu. Aqui, é o próprio Jesus, o Ungido de Deus Pai, que ungirá com a palma das suas mãos aquele que era cego de nascença. O cego foi, lavou-se na verdadeira fonte batismal de água viva que nos purifica e nos lava por inteiro.
O cego de nascença, ao abrir-se para uma nova vida em Deus, é envolvido pelo mistério e pelo Espírito vital que faz nova todas as coisas (Ap 21,5). O homem que antes era cego progride na descoberta de Jesus e, portanto, de espírito e coração abertos para o alto, reconhece que Jesus recupera o ser humano da cegueira espiritual e da cegueira institucional.
O homem que fora curado da sua cegueira espiritual causa tumulto entre seus vizinhos que (simbolizam o Império), bem como os fariseus que (simbolizam a religião sem Espírito) e seus familiares que (simbolizam a instituição engessada). Eles não admitem a conversão do coração daquele que agora enxerga à luz por excelência diante de si, isto é, de Jesus Cristo. Portanto, na representação simbólica dos três poderes, desejam-lhe que o mesmo permaneça dentro do útero do Império e, portanto, preso no seio da instituição e da religião petrificada, e sem acesso à vida em plenitude.
Por fim, o homem que agora enxerga ajoelha-se diante de Jesus e faz uma das mais belas profissões de fé: “Eu creio, Senhor!” (Jo 9, 38). Neste exato momento, os fariseus não tendo há quem mais interrogar, dirigem-se a Jesus: “Porventura também somos cegos? Jesus respondeu-lhes: “Se fôsseis cegos não teríeis culpa; mas como dizeis: “Nós vemos”, o vosso pecado permanece” (Jo 9, 41). Porque o homem que antes era cego de nascença, abriu-se para a graça de Deus, mas aqueles que se diziam conhecedores das ciências de Deus, foram incapazes de ver e perceber à fonte de luz diante de si e esculpida eternamente no coração da humanidade.
Por pe. Rivaldo Oliveira da Silva, CSC
Capelão do Colégio Notre Dame