Querido povo de Deus, de acordo com a liturgia de hoje, iniciamos o tempo quaresmal, tempo de silêncio, jejum, oração e conversão do coração. De acordo com a liturgia da Igreja, a espiritualidade do “tempo” quaresmal, não é um tempo cronológico (Κρόνος), mas o tempo da graça de Deus (Kairós) que vem nos falar ao coração.
Neste âmbito, o tempo da eterna graça do Senhor, ganha um tom de esperançosa misericórdia (Sl 50); a “miserere” em teor de esperança e alegria se manifesta na raiz da história sagrada da humanidade. O ponto de partida dessa história, como bem nos lembra o profeta Joel no coro da tradição profética, dizendo: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar” (Joel 2,12-13). Como bem disse o Papa Francisco: “que o nome de Deus é misericórdia”, pois a misericórdia do Senhor é contínua na esfera religiosa.
Em suma, no balbuciar do salmista, o homem bíblico, reconhece a sua miséria diante do Senhor e, com humildade e “espiritualidade vigorosa” salmodia com todo o coração: “Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado e apagai completamente a minha culpa” (Sl 50, 2-5).
Por fim, de acordo com o santo Evangelho de hoje, a verdadeira oração e a verdadeira justiça nascem do encontro pessoal com Deus, na escuta atenta da sua Palavra e da sua misericórdia encarnada, pois a verdadeira caridade e a verdadeira partilha do pão se dão de forma oculta. “De modo que a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa” (Mt 6, 4). Pois a verdadeira oração, e o verdadeiro jejum e a verdadeira caridade é permitir que Deus e os nossos irmãos e irmãs, se aproximem da nossa vida e da nossa humanidade.
Por Padre Rivaldo Oliveira, CSC