Beato Moreau: 15 anos da beatificação

Artigo por Pe. Rivaldo Oliveira, CSC

Na celebração litúrgica de Nossa Senhora das Dores, nossa padroeira, temos também a alegria de recordar os 15 anos da beatificação do nosso fundador. Na homilia de beatificação de Basílio Moreau, o cardeal José Saraiva Martins recordava que se tratava da primeira beatificação celebrada na França em virtude da permissão concedida pelo Papa Bento XVI. Sempre que meditamos o amor de Deus por nós, nos damos conta de seus incontáveis benefícios feitos em nosso favor. Mas, hoje gostaríamos de mencionar alguns motivos para elevar a Deus um canto de alegria e gratidão. O primeiro é de nos ter cumulado de bênçãos em Jesus Cristo; depois o de nos ter dado Maria, Mãe de seu Filho por nossa Mãe; outro motivo é de nos ter presenteado Nossa Senhora das Dores como padroeira da nossa Congregação; também o de ter chamado e inspirado Basílio Moreau à fundação da Congregação de Santa Cruz e, por fim, por o ter ornado com a graça de uma vida virtuosa, fazendo-o para nós modelo de seguimento a Jesus Cristo.

Celebrando os 15 anos da beatificação do nosso fundador, poderíamos destacar vários aspectos de sua vida virtuosa: um homem de grande confiança na Divina Providência, de uma fé madura, à frente de seu tempo, de grande zelo apostólico, sensível à realidade que o circundava, de grande amor à Igreja, de uma espiritualidade madura e um homem de ação. Teríamos outros elementos a considerar e, se quiséssemos tratar de sua vida de modo mais aprofundado, certamente requereria de nós mais tempo e mais papel para tal tarefa. Mas não é esta nossa intenção ao fazer a memória da beatificação do nosso fundador. No entanto, desejamos salientar um traço importante em Basílio, fruto do agir de Deus em sua vida e que se torna muito atual para a Congregação de Santa Cruz e, por isso mesmo, importante para nossa vida como religiosos, chamados a “atualizar” o carisma da CSC nos lugares em que estamos inseridos e aí atuamos.

Trata-se de seu amor pela missão em sua realidade eclesial e consequentemente congregacional. No dia da beatificação de Basílio, o cardeal José saraiva afirmou em sua homilia: “Prodigalizou-se em múltiplas atividades: das missões populares à educação dos jovens, das obras de caridade às missões estrangeiras. Fundador da Congregação de Santa Cruz, contribuiu para o crescimento da Igreja nos Estados Unidos, para a fundação das primeiras escolas católicas na Argélia e do primeiro orfanato rural em Roma” (Homilia do Cardeal José Saraiva em 15 de setembro de 2007). Como notamos, Basílio Moreau foi um homem de grande ardor missionário, um homem apaixonado pelo evangelho de Jesus Cristo e que viveu tudo isso, quer seja por meio da educação, a princípio em meios populares, da pregação de missões ad gentes e também da propagação da CSC além-fronteiras.

Claro que Basílio não se movia no plano puramente humano em sua ação missionária. Antes, ele era um instrumento de Deus conduzido pelo Espírito Santo, Protagonista da missão da Igreja no mundo. Tanto é verdade, que o mesmo sempre falava da confiança firme na Divina Providência. Impulsionado pela Divina Providência e aberto ao chamado de Deus e às necessidades da Igreja, podemos dizer que Basílio era um homem sensível à realidade, mas jamais fechado à sua época. O seu amor pela missão o tornou aguçado, espiritualmente falando, isto é, situado no presente, mas além do seu contexto, um homem de esperança, um homem com muito a nos dizer nos dias atuais.

Lemos alguns escritos de Basílio sobre a missão além-fronteiras e lemos o Decreto Ad gentes do Concílio Vaticano II e nos damos conta de que é possível ver elementos de

relação entre o pensamento de Basílio e o texto conciliar no condizente à missão aos povos, com praticamente um século de distância de época histórica. Atualmente ouvimos o apelo do Papa Francisco sobre a necessidade de uma Igreja em saída missionária. Aprofundando o Concílio Vaticano II e tratando de promover uma autêntica recepção do mesmo, o Papa tem insistentemente falado que a Igreja existe para levar Jesus Cristo ao mundo por meio do anúncio e testemunho do evangelho. Francisco tem muito claro em sua mente o mandato missionário de Jesus Cristo aos seus primeiros seguidores e que deve perpassar todas as épocas históricas até a consumação dos tempos. Faz-se necessário ir ao encontro das pessoas, das periferias existenciais para viver e partilhar a experiência do amor redentor de Jesus Cristo, a partir de uma experiência pessoal com ele, construindo diálogo, estreitando relações, promovendo proximidades etc. Olhando nosso fundador, nos damos conta de que ele já vivia esta inquietação e realidade no século XIX. Inicialmente na França e depois em outros países, por meio de várias atividades missionárias, ele se movia por amor e zelo apostólico para tonar Jesus Cristo amado, conhecido e servido.

Lembrando os 15 anos de sua beatificação, este é o grande legado que ele nos deixa. Às vezes nos vemos limitados e queixosos diante de tantos desafios e tudo isso tende a nos desanimar; outras vezes nos vemos enrijecidos e tendenciosos em regredir, talvez com saudade de um passado glorioso. No entanto, o Senhor nos chama a avançar lançando as redes em águas mais profundas, confiando sempre na Divina Providência, como fez com Basílio Moreau. Demos graças a Deus pela vida deste seu servo e nosso fundador e peçamos ao Senhor a graça de uma “santa inquietude” que nos faça sair de nosso comodismo, de nossos medos, de nossas projeções puramente humanas para levar Jesus Cristo ao mundo, às nossas frentes de atuação, aqui no Brasil ou aonde formos enviados em missão, com esperança e amor, abertos às novidades do tempo pressente sem perder a nossa essência de consagrados na Igreja e na Congregação de Santa Cruz.

Beato Basílio Moreau, rogai por nós.


Pe. José Paim, CSC

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