Artigo (4/4): 1 ano de Fratelli Tutti, por Rivaldo Oliveira

Continuação da nossa série de artigos sobre a Carta Encíclica Fratelli Tutti.

IV – Por um mundo mais justo e fraterno

Continuação da nossa série de artigos sobre a Carta Encíclica Fratelli Tutti (veja a última edição clicando aqui):

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O Santo Padre em sua Carta Encíclica sobre a amizade social sugere a vivência da fraternidade universal e da espiritualidade como fonte de vida e meios fundamentais necessários para vencermos a praga do individualismo. É possível construirmos uma sociedade e um mundo baseado nos valores de fraternidade universal. Isto é, uma humanidade que favoreça os direitos de igualdade e justiça para todos os indivíduos. Infelizmente atualmente vivemos em um mundo mutilado pelo ódio, pela ganância exacerbada e pela violência desmedida. Nas Palavras do Pontífice:

Para se caminhar junto a amizade social e à fraternidade universal, há que fazer um reconhecimento basilar e essencial: dar-se conta de quanto vale um ser humano, de quanto vale uma pessoa, sempre e em qualquer circunstância. Se cada um vale tanto assim, temos que dizer clara e firmemente que o ‘simples fato ter nascido’ em um lugar com menos recursos ou menor desenvolvimento não justifica que algumas pessoas vivam menos dignamente’ (EG, n. 190). Trata-se de um princípio elementar da vida social que é, habitualmente e de várias maneiras, ignorado por aqueles que sentem que não convém à sua visão do mundo ou não serve aos seus objetivos (FT 106). 

Na Encíclica Fratelli Tutti, o Pontífice mapeia com maestria a realidade do mundo com seus avanços tecnológicos, com suas peculiaridades, regressões e rejeições aos imigrantes e empobrecidos, e critica o modelo econômico individualista que não se preocupam com o bem comum para todos. Neste sentido escreve Francisco:

O mundo existe para todos, porque todos nós, seres humanos, nascemos nesta terra com a mesma dignidade. As diferenças de cor, religião, capacidade, local de nascimento, lugar de residência e muitas outras não podem antepor-se nem ser usadas para justificar privilégios de alguns em detrimentos dos diretos de todos. Por conseguinte, como comunidade, temos o dever de garantir que cada pessoa viva com dignidade e disponha de adequadas oportunidades para seu desenvolvimento integral (FT 118).

Assim como em sua segunda Carta Encíclica Laudato Si sobre o cuidado que devemos ter com a nossa Casa Comum, a terceira Encíclica do Pontífice Romano sobre a fraternidade e a amizade social, adverte-nos também sobre os cuidados que devemos ter com esta nossa morada, a Casa Comum. Francisco se mostra preocupado com a destruição do meio ambiente e a criminosa exploração da terra, efeito da ambiciosa economia de mercado que pensa no lucro e no enriquecimento das grandes empresas que destroem a natureza a seu vil prazer, deixando as nossas riquezas naturais e o bem comum que deveria ser de todos em uma verdadeira sucata.

Neste âmbito escreve o Papa:

Quando falamos em cuidar da Casa Comum, que é o planeta, fazemos apelo àquele mínimo de consciência universal e de preocupação pelo cuidado mútuo que ainda possa existir nas pessoas. De fato, se alguém tem água de sobra, mas poupa-a pensando na humanidade, é porque atingiu um nível moral que lhe permite transcender a si mesmo e ao seu grupo de pertença. Isso é maravilhosamente humano! Requer-se esse mesmo comportamento para reconhecer os direitos de todo ser humano, incluindo os nascidos fora de nossas próprias fronteiras (FT 117).

É de suma importância o cuidado com a Casa Comum, mas que para cuidar desta Casa Comum se faz necessário cuidar do outro, favorecer políticas públicas e sociais de acolhimento, neste caso o migrante. A Casa Comum é de todos e não deveria haver fronteiras ou impedimentos que barrassem as pessoas de buscarem morada ou melhores condições de sobrevivência em outra pátria. Para o Papa Francisco: “em alguns países de chegada, os fenômenos migratórios suscitam alarme e temores, muitas vezes fomentados e explorados para fins políticos” (FT. n. 39).

Essas são realidades presentes e em nossos países, infelizmente, vemos os imigrantes como uma ameaça e não como nosso irmão e uma pessoa humana. Nesta perspectiva escreve o Papa Francisco:

A verdadeira qualidade dos diferentes países do mundo mede-se por essa capacidade de pensar não só como país, mas também como família humana; e isso se comprova sobretudo nos períodos críticos. Os nacionalismos fechados manifestam, em última análise, essa incapacidade de gratuidade, a distorcida concepção de que podem desenvolver-se à margem da ruína dos outros e que, fechando-se aos demais, estarão mais protegidos. O migrante é visto como um usurpador que nada oferece. Assim, chega-se a pensar ingenuamente que os pobres são perigosos ou inúteis; e os poderosos, generosos benefícios. Só poderá ter futuro uma cultura sociopolítica que inclua o acolhimento gratuito (FT 141).

A exemplo da espiritualidade do Pobrezinho de Assis e na humilde santidade do padroeiro da Itália, que tanto nos fala da importância do amor fraterno, inspirado naquele que com alegria e coração aberto se fez irmão da natureza e da santa pobreza, que com nobres e audaciosos gestos renovou a comunidade de homens e mulheres de fé há oito séculos atrás, o Papa conclama-nos a olharmos para o nossa Casa Comum visando o bem de todos os povos.

Em suma, o Santo Padre Francisco sonha com um mundo mais justo e fraterno, por uma economia integral que inclua os menos favorecidos sem discriminar e sem destruir a meio ambiente, sem poluir os rios e os animais.

Enfim, para colocarmos a cabo a construção deste ideal, se faz necessário não apenas vozes proféticas como a do Santo Padre, mas um projeto de políticas públicas que pense na saúde, no trabalho e no combate à fome e a pobreza, valorizando, assim, o ser humano e a Casa Comum em suas mais diversificadas realidades existenciais.

Bibliografia: FRANCISCO, PAPA. Carta encíclica Fratelli tutti. Sobre a fraternidade e a amizade social (FT). Roma: Librería Editrice Vaticana, 2020.


Rivaldo Oliveira, CSC

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