Homilia – 6º Domingo da Páscoa

Reflexão por Pe. José Paim
Celebramos o sexto domingo da Páscoa, tempo em que somos chamados de modo mais profundo ao mistério do Cristo Ressuscitado. Com efeito, em cada domingo celebramos a ressurreição do Senhor, mas nestes cinquenta dias da páscoa, como diz Santo Atanásio, devemos celebrar como se fosse “um único e grande domingo”, cheios de alegria e júbilo em honra do Cristo Ressuscitado. Toda esta realidade deve se estender durante toda nossa existência até a consumação dos tempos. A oração coleta deste dia é uma súplica para vivermos este tempo com fervor e alegria: “Dai-nos celebrar com ferver estes dias em honra do Cristo ressuscitado…”. Dentre os dons pascias comunicados a nós pelo Ressuscitado encontra-se a alegria. A alegria pascal não se trata da ausência de dificuldades, enfermidades etc. Também não pode ser assemelhada a sentimentos passageiros, que vão em veem. Antes de tudo, ela se manifesta por meio da presença do Senhor, Vivo e Ressuscitado. É a certeza de que Jesus Cristo venceu o pecado, a morte e caminha conosco. Graças ao seu amor, embora provados na existência humana, avançamos firmes nele, vencendo as tribulações cotidianas, não nos deixando abater pelo desânimo que tenta turbar a alegria que a fé traz aos nossos corações. Cristo está vivo entre nós, por isso nele nos alegramos. A presença do Ressuscitado foi a causa da alegria dos habitantes da Samaria, conforme ouvimos na primeira leitura da missa de hoje (cf. At, 8,5-8.14-17). À medida que Filipe anunciava-lhes a Palavra do Senhor, todos unânimes o escutavam. Ou seja, a Palavra anunciada encontrou acolhimento no coração dos da Samaria e por isso, sinais e milagres aconteceram e todos se alegraram naquela cidade. Por conta da escuta e adesão à Palavra anunciada, o povo pode experimentar a alegria do Senhor ressuscitado. De fato, quando ouvimos a Palavra do Senhor, não se trata de uma mera informação histórica de alguém que veio a esta terra, fez coisas boas e depois morreu e por fim, ficaram as lembranças de alguém que viveu heroicamente nesta terra. Tudo isso pode servir para quem não acolheu a fé no Senhor Ressuscitado. Para quem disse sim ao dom da fé, escutar a Palavra do Senhor é acolhê-Lo em Pessoa viva, presente no meio de nós, fonte de alegria, vida, comunhão, amor, justiça e paz. A vida cristã não se trata de uma vivência de normas e leis que para muitos limitam a liberdade e por isso mesmo, tiram a alegria. A vida cristã não se refere também de um seguimento a alguém que veio e passou, morreu e tudo se acabou. A vida cristã é essencialmente um encontro com uma pessoa viva, ressuscitada, que caminha entre nós. Numa de suas pregações da quaresma em 2021, Frei Cantalamessa afirmou: “Jesus de Nazaré está vivo! Não é uma memória do passado; não é apenas um personagem, mas uma pessoa. Vive “segundo o Espírito”. Precisamos tomar consciência dessa realidade, porque para muitos Jesus Cristo é alguém do passado e isso impede o influxo da alegria do Ressuscitado em nós e entre nós. quem não tem alegria do Senhor não pode semear senão discórdias, tristezas e desamor. Quem a tem, só pode fazer frutificar e crescer o bem do Reino dos Céus. O evangelho de hoje continua neste mesmo sentido, o de acolher a Palavra do Senhor e conservá-la no coração, guardar os mandamentos divinos, abrir-se ao Espírito Santo, o Paráclito, Defensor dos discípulos, da Igreja nascente que caminha na história, o nosso Defensor. O Espírito Santo, o prometido e enviado de Deus é Animador da Igreja peregrina na terra, ele a fortalece e a impulsiona para a missão de anunciar e testemunhar o evangelho da salvação. Depois Jesus fala de sua própria vinda aos seus discípulos e a nós: “Eu virei a vós” (cf. Jo 14,18). A vinda de Cristo aos discípulos é sinal de sua unidade perfeita com o Pai e está estritamente unida à promessa da vinda do Paráclito. Jesus voltou ao Pai, mas continua presente na sua Igreja na força do Espírito Santo. Está presente em cada sacramento, na ação missionária e no testemunho da Igreja no mundo. Está presente em nossas vidas, em todos os momentos dela, nos mais alegres, mas também nos mais sombrios e mais difíceis. Em tudo isso está o sentido da alegria pascal: de saber que não somos órfãos, que não caminhamos sem rumo, que a Igreja não caminha sozinha, mas que Cristo ressuscitado está sempre conosco, na força do seu Espírito. E tudo isso se dá, sobretudo, através da escuta, acolhimento e adesão à Palavra de Deus, que é viva e eficaz (cf. Hb 4,12). Que a Virgem Maria, serva e servidora da Palavra nos ensine a escutar e praticar a Santa Palavra de Deus a fim de que floresça em nós a alegria pascal para que a mesma nos renove interiormente e nos fortaleça no anúncio e testemunho do Cristo ressuscitado.

Por pe. José Paim, CSC

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