Homilia Dominical – 1º Domingo da Quaresma

Reflexão por Pe. Rivaldo Oliveira da Silva, CSC

Amado povo de Deus, hoje celebramos o primeiro domingo da quaresma, o âmago da pesquisa litúrgica presente nas leituras deste domingo, remete ao tema da criação. De acordo com a “espiritualidade judaica”, na representação imaginosa da criação que o homem primitivo dela soube fazer, não é um relato geográfico, mas espiritual (teológico).  Pois só conseguimos ler a história bíblica e exuberante da criação, com o olhar sagrado de quem a criou.

Isso posto, na economia da criação, Deus se faz oleiro na arte do criar, pois existe neste ato, o verbo plasmar, ou seja, o Criador modula o próprio ser humano com a palma das suas mãos. Neste âmbito, na ilustração do prefácio da criação: “O Senhor Deus plasmou Adão com o pó do solo e soprou-lhe nas narinas o hálito de vida, e ele tornou-se um ser vivente (Gn 2,7).

Contudo, Adão, cujo nome significa terra/barro, somente, será constituído ser humano quando tiver recebido em suas narinas o sopro da vida, ou seja, o Espírito que faz nova todas as coisas (Ap 21,5). Aqui devidamente simbólico, o barro que antes se encontrava atrofiado e sem vida nas águas lamacentas do Éden (jardim/lugar a parte), recebe a “Ruah”de Deus – a “Ruah” de Deus gera à vida humana, ou seja, o Espírito Santo de Deus faz do barro atrofiado: vida, carne, sangue e o capacita como um ser da história. Portanto, quem não se abrir de espírito e coração para “viver da vida mesma de Deus”, se encontra no primeiro estágio da criação, isto é, atrofiado bem como sem vida e na pequenez do seu “ego”, e isto, o torna distante de Deus.

Na liturgia da criação, Deus faz uma proibição pedagógica: ‘Não comais do fruto proibido’, mas os primeiros viventes a comeram e a suas vidas já não se encontravam mais em Deus: “Vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus” (Gn 3,5). Porém, que fruto proibido é esse? O fruto proibido é ser como Deus, isto é, a tentação de querer ser como Deus; ser o deus de si mesmo; ser o centro do seu próprio “eu” e esquecer que “és pó, e ao pó voltarás” (Gn 3, 19).  

No teor da liturgia, ‘a eternidade rompe o tempo’, longe de Deus não existe vida e, vida em abundância (Jo 10,10), nem a verdadeira alegria, que faz ecoar em todo o nosso ser. A humanidade, que antes havia esquecido de Deus e da sua aliança, agora, deseja voltar-se para o Criador/Senhor, a saber: “Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado e apagai completamente a minha culpa. […], Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face nem retireis de mim o vosso Santo Espírito. Dai-me de nono a alegria de ser salvo e confirmai-me com espírito generoso! Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, e minha boca anunciará vosso louvor” (Sl 51).

Desse modo, na alta literatura dos cristãos primitivos, segundo o Apóstolo Paulo: “Com efeito, como, pela desobediência de um só homem, a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça” (Rm 12, 19). Ou seja, se no prefácio da criação (Gn), por meio de Adão entrou o pecado no mundo, mas também, por meio de um único homem – Jesus Cristo – entrou a salvação na humanidade.

Por fim, Adão e Eva foram seduzidos pela serpente no jardim do Éden a caírem em tentação, a serem iguais a Deus, isto é, com o desejo de persuadir e manipular a Deus. No Evangelho de hoje, Jesus foi tentado pelo diabo, ou seja, pelo divisor da comunidade a cair em tentação. A serpente seduziu os primeiros viventes, Adão e Eva a comerem do fruto proibido. No Evangelho, o diabo oferece a Jesus todos os reinos do mundo, mas, Jesus nos ensinou a vencermos as seduções a as três tentações no Evangelho de hoje, Jesus disse-lhe: “Vai-te embora, satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto’” (Mt 4, 10). 


Por pe. Rivaldo Oliveira da Silva, CSC

Capelão do Colégio Notre Dame

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